Tornados em Santa Catarina

Os tornados em Santa Catarina ocorridos nesse ano de 2015 vieram de uma sequência histórica de desastres atmosféricos na região
Por Rodolfo F. Alves Pena

Os tornados, embora com um diâmetro pequeno, fazem muitos estragos por onde passam
Os tornados, embora com um diâmetro pequeno, fazem muitos estragos por onde passam
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O estado de Santa Catarina, nesse mês de abril de 2015, sofreu com uma sequência de dois grandes tornados que atingiram as cidades de Xanxerê e Ponte Serrada, situadas a 550 km e 463 km de Florianópolis, respectivamente. Porém, esse fenômeno não é uma novidade para os catarinenses, haja vista que o estado, nos últimos 40 anos, foi alvo de mais de 80 tornados segundo dados do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas Sobre Desastres da Universidade Federal de Santa Catarina (CEPED/UFSC). 

Vale lembrar, no entanto, que os tornados são diferentes dos furacões, principalmente por serem mais intensos e velozes e também por abrangerem áreas menores. Além disso, Santa Catarina localiza-se em uma área geograficamente favorável à formação desse tipo de ciclone, em uma zona chamada de Sistema de Baixa Pressão do Chaco. 

Confira a seguir algumas perguntas frequentes sobre esse tema:

Qual é a diferença entre tornados e furacões?

A diferença entre tornados e furacões é que, como já mencionamos, os tornados são bem menores, porém mais rápidos e intensos. Enquanto os furacões possuem um diâmetro que varia entre 200 km e 400 km e velocidades de 120 km/h, os tornados atingem geralmente um diâmetro de 2 km e podem alcançar velocidades entre 180 e 500 km/h. 

Portanto, por onde passa, um tornado gera mais estragos do que um furacão, embora os efeitos desse último sejam mais graves por ocorrerem em uma área muito maior. Um observador mais ou menos distante pode observar um tornado inteiramente a olho nu, enquanto os furacões só podem ser vistos dessa forma em imagens de satélite. 

Por que em Santa Catarina há tantos tornados?

A explicação para os tornados em Santa Catarina serem tão frequentes é a combinação de uma série de fatores específicos da área onde se localiza esse estado. A ocorrência desse terrível fenômeno é natural e, portanto, não pode ser relacionada com anomalias climáticas ou desequilíbrios, como o Aquecimento Global. Existem, no entanto, cientistas que afirmam que as mudanças climáticas estejam intensificando a presença desses tornados na região, o que não foi ainda provado. 

O interior catarinense localiza-se em uma área intracontinental, onde a amplitude térmica (variação de temperatura) é muito elevada em razão da menor umidade. Além disso, o ar atmosférico local é mais quente e a pressão é menor, o que faz com que exista certa atração de fortes ventos oriundos de regiões onde essa pressão atmosférica é mais elevada. Essas configurações climáticas constituem o que chamamos de sistema de baixa pressão.

Soma-se a essa dinâmica a presença de correntes de ar oriundas do oeste, advindas da Cordilheira dos Andes. Como nessa localidade as temperaturas são menores, o ar frio dela proveniente vai se aquecendo enquanto se desloca, tornando-se mais leve e auxiliando na formação do sistema de baixa pressão em questão. Como todo esse processo ocorre próximo ao Trópico de Capricórnio – onde é comum o encontro entre massas e frentes de ar –, gera-se uma zona de instabilidade responsável por fortes ventos, tempestades e, eventualmente, tornados. 

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Confira o esquema a seguir:

Mapa esquemático dos tornados em Santa Catarina
Mapa esquemático dos tornados em Santa Catarina

Quais foram os dois tornados que atingiram Santa Catarina em 2015?

Ambos os tornados ocorreram no dia 20 de abril e causaram mortes, estragos e muitos prejuízos sociais em estruturas básicas para a sustentação das cidades. 

O primeiro deles atingiu a cidade de Xanxerê às 15h e durou pouco menos de 10 minutos. O resultado foi 2,5 mil casas afetadas, 120 pessoas feridas e duas mortes. Os ventos, nesse caso, atingiram uma velocidade superior a 250 km/h, sendo capazes de afetar até torres de alta tensão previamente construídas para resistir a ventos de até 200 km/h.

O segundo atingiu a cidade de Ponte Serrada às 16h e durou pouco menos de cinco minutos. Atingiu 200 casas, deixou oito feridos e nenhuma morte. Sua velocidade foi um pouco inferior, 200 km/h, mas ainda sim capaz de causar muitos estragos, embora tenha ocorrido em bairros onde a densidade populacional é reduzida. 

Na cidade de Xanxerê, os estragos foram maiores e as autoridades declararam estado de calamidade pública. Já em Ponte Serrada foi declarado um estado de emergência. Porém, ambas as localidades, com a tragédia, carecem de recursos para necessidades básicas, como alimento e água. 

Quais foram os piores tornados que ocorreram no estado?

Além do conhecido caso do ciclone Catarina de 2004, o estado de Santa Catarina conheceu uma série de fortes tornados nas últimas décadas. O mais marcante aconteceu no município de Canoinhas, no ano de 1948, que atingiu velocidades superiores aos 300 km/h e matou mais de 20 pessoas. 

Em 2003, no município de Painel, situado na Serra Catarinense, centenas de casas foram destelhadas por rajadas de vento próximas aos 180 km/h. Em 2005, a cidade de Criciúma também foi afetada por um forte tornado. Em Guaraciaba, em 2009, um tornado alcançou os 200 km/h, ao passo que, na cidade de Ponte Alta, os ventos ultrapassaram os 250 km/h no ano de 2012.