Os índios e a Usina de Belo Monte

Em 21/05/2008 11h54 , atualizado em 21/05/2008 12h07 Por Camila Mitye

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Fevereiro de 1989, Altamira (Pará): cerca de 3 mil pessoas (entre eles, 650 índios) participaram do I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu. Os participantes reclamavam da política da construção de barragens na região do Xingu (sudeste do Pará) e das decisões tomadas na Amazônia sem a participação dos índios (o que contradiz a Constituição).

O evento foi marcado por uma imagem: a índia kaiapó Tuíra encosta seu facão no rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, em advertência contra o projeto de construção de um complexo de cinco hidrelétricas no Xingu. A primeira delas seria a usina de Belo Monte.


Registro do I Encontro de 1989: Mobilização

Maio de 2008, Altamira (Pará): Durante um evento organizado pela Arquidiocese de Altamira e o Instituto Socioambiental (ISA), o engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende, coordenador dos estudos de Belo Monte, convidado para falar sobre o aproveitamento hidrelétrico do projeto, foi agredido por (supostamente) um grupo de índios kaiapós.

O engenheiro foi ferido com facões e teve atendimento médico. O procurador federal Felício Pontes Júnior, que participou do evento, disse que o que aconteceu ao engenheiro mostra que os índios irão resistir fisicamente à instalação de Belo Monte, se for preciso. Felício alegou inclusive que os índios da região do Xingu (que serão fortemente afetados com a barragem) ainda não foram ouvidos e o projeto, ainda assim, continua caminhando.

Belo Monte

O projeto da Usina Belo Monte gera polêmicas desde sua criação, na década de 80. Os dois fatos relatados acima mostram como os anos passam e as questões continuam as mesmas. Os índios não são ouvidos, os estudos de impacto ambiental são controversos e o governo parece fazer o que lhe convém.

Belo Monte foi colocada em pauta durante o governo FHC (com o programa “Acelera Brasil”), criticada por Lula em sua campanha presidencial (dizia que projetos como esse prejudicavam o meio ambiente e populações indígenas e ribeirinhas) e retomada por um Lula presidente, em seu segundo mandato. Atualmente, o projeto da usina que terá capacidade média de 11 mil megawatts (MW) é uma das obras prioritárias do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o carro-chefe do governo Lula.

Tudo isso gira em torno de questões que já são intrínsecas da cultura brasileira: A enorme necessidade de se fazer justiça e “redimir” o passado com os índios de maneira errônea (vide casos como esse de Belo Monte e outros, como a demarcação absurda de terras da Reserva Raposa Serra do Sol) e a dependência brasileira de energia (que os governantes sempre tentam sanar por meio de hidrelétricas, um dos meios mais degradantes de se produzir energia elétrica).


Localização de Belo Monte no Rio Xingu

Ora, por que não pensar em fontes alternativas de energia? Esse é um debate a muito tempo levantado no Brasil e que, infelizmente parece não haver espaço nas câmaras e mesas políticas. Além disso, é preciso criar novas políticas de relacionamento com os povos indígenas. A FUNAI passa por graves problemas faz algum tempo e muitas comunidades indígenas já não a vêem com bons olhos como antigamente.

Especialistas da área de energia indicam que com tamanha energia gerada por Belo Monte, o Brasil estaria livre de um novo apagão (previsto para breve), como houve em 2001. Mas será que esse é o melhor jeito de se evitar um apagão? Não seria mais simples, barato e menos prejudicial educar a população e conscientizá-la da importância de se economizar energia?

E você, o que acha desses problemas que afetam nosso país? Os direitos dos índios estão sendo violados ou eles estão agindo na contramão do desenvolvimento do país? O que você acha da atual situação dos índios no Brasil? E as políticas de geração de energia do Brasil, estão corretas? Será que Belo Monte é a única saída para o risco iminente de um novo apagão?

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