“Sou contra, mas vou participar do sistema de cotas”

Por Marla Rodrigues

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Essa é a declaração de Régis de Moraes, 22 anos, recém-formado em Biomedicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Régis, que é negro, tenta desde 2004 uma vaga no curso de Medicina, no entanto nunca foi aprovado, apesar das notas bem próximas ao ponto de corte.

O biomédico é contra todos os sistemas de cotas, mas acredita que essa é a maneira que ele tem para poder ingressar na UnB. Ele, que estudou em escola particular com bolsa integral durante toda a sua vida escolar, acredita que as cotas deveriam ser encaradas como uma alternativa e não como uma solução. Em sua visão, o governo deveria concentrar seus esforços na educação básica de qualidade e não em uma medida paliativa na graduação.

Régis era o único aluno negro de sua turma de Biomedicina, conheceu pouquíssimos negros na UFG e apenas um estudante oriundo de escola pública, “mas era Cefet”, diz ele, referindo-se ao bom conceito da instituição na cidade de Goiânia. Ele é contra as cotas raciais porque acredita que essa política ajuda a estereotipar os negros como “incapazes”. Para provar o contrário ele mostra as excelentes notas obtidas ao longo dos quatro anos da faculdade, além dos certificados de participação em projetos de pesquisa fomentados pela universidade e pelo CNPq.

O fato de ter estudado em colégio particular ajudou, mas ele afirma que teria tido bons resultados mesmo que tivesse estudado toda a vida em escolas da rede pública de ensino. “O rendimento depende do esforço do aluno e nisso eu sempre tive bons exemplos e um objetivo claro”, diz ele, que é filho de professora e sempre sonhou em ser médico.

“O fato de prestar o vestibular como cotista é apenas uma forma de tentar usar o sistema a meu favor, e não contra mim”. Neste semestre ele vai concorrer a uma das sete vagas reservadas para negros. Segundo ele, no último semestre o ponto de corte de Medicina da UnB no sistema universal foi 415, enquanto que para o sistema de cotas o número foi 388. Seu medo é obter uma média 411, por exemplo, e ficar de fora do processo seletivo. Por esse motivo, a escolha em prestar o vestibular pela primeira vez como cotista.

Ele afirma não ter sofrido preconceito na UFG, já que a instituição não adotou nenhum tipo de reserva de vagas, mas já imagina como será sua recepção em Brasília: “acho que vão pensar que sou incapaz, que eu só estou lá por causa das cotas, mesmo que fosse aprovado no sistema universal”. Este não parece um problema para Régis, que está confiante em sua aprovação neste ano.

Aprovado pela UnB, o desafio será outro: mudar de cidade (ele mora em Goiânia) e manter-se financeiramente na cidade que tem o custo de vida mais caro do país. Mas, para quem já superou dificuldades maiores, esse deve ser o menor dos problemas para Régis. Boa sorte!

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