O leopardo é um animal delicado

Por Marla Rodrigues

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É a alma, não é: Fala da historia de Marta, uma mulher infeliz no casamento. Ela e o marido, mesmo dormindo na mesma cama, eram distantes e ela levava a vida perdida em seus pensamentos. Em uma manhã quando ele leu uma reportagem no jornal para ela que falava sobre uma libélula que foi encontrada em um âmbar e que os cientistas iriam cloná-la, Marta se sentiu a libélula presa e que os móveis e o casamento infeliz eram seu âmbar. Ficou a tarde inteira na frente da televisão ligada, apenas vagando em seus pensamentos quanto à libélula e ela. Quando o marido chega, apenas o cumprimenta e pergunta pelo dia dele, mas antes da resposta volta aos seus pensamentos.

Como o máscara de ferro: É a história de um homem sem nenhuma descendência chinesa, que tinha belos olhos vivos, um rosto redondo e cabelos de querubim. Porém com o passar do tempo vê uma “máscara” chinesa tomar conta de seu rosto. O cabelo liso, a pele esticada, os olhos curvados e todo o resto. Ele chega a mudar de cidade. No espelho buscou muitas vezes sua face verdadeira, mas conhecia pouco dela e assim ela ia se perdendo com o tempo.

Menina de vermelho a caminho da lua
: Um homem a fim de contar um fato contratou um narrador e para ele ditou sua história. A mãe levou as duas filhas ao parque, velho e sujo, e lá esperaram que alguém aparecesse para pagar pela diversão da filhas. Apareceu um homem com as calças amarradas por cordas e um sorriso, a mãe pagou e as meninas entraram no brinquedo, uma bolha que intencionava se passar por lua. Chegou então uma menina de dez anos, mas que aparentava mais. Ela queria brincar, a mãe não queria se envolver. A garotinha viu que era preciso ficar com o velho para entrar no brinquedo, a mãe ignorava quando via a sedução entre os dois. O tempo das filhas acabou e elas foram embora, era a vez da menina.

É bela à noite: Em Paris, um homem observa a noite da cidade, maravilhado como sempre fica nesta cidade. Na rua muitas pessoas passam, ainda era cedo para ruas desertas. Então ele vê um jovem árabe caminhar e vê aparecer também um homem e quando os dois se cruzam o jovem recebe um soco no queixo e cai de costas. O observador passa indo embora sem querer ser testemunha, sabe que o sangue escorre na rua por que a batida do crânio foi como a de um coco se partindo. Ele entra em um bar e pede um café, estava nervoso. O homem do soco entra e bebe tranquilamente seu café. Responde que acredita que certamente o jovem morreu e depois vai embora.

O vulcão de seda: Trata-se da história de Itchiguro, um jovem que faz seu quimono. Com toda delicadeza ele trabalha na seda, sem nenhuma pressa. Ele a costura, a borda, faz os cortes certos até que o traje esteja pronto e perfeito. Ele espera e, durante a noite, quando acorda, toma um banho e veste sua obra.

Lacoonte em negra água: O homem deitado em sua rede ouvia o barulho da água que corria dentro da sua casa. E dessas águas sai uma cobra com quem ele se pôs a lutar, seus filhos gritavam e a cobra estava quase o vencendo quando ele encontrou na escuridão da casa um facão e com ele cortou o pescoço da cobra. Foi assim que matou sua esposa quando a pegou na cama com outro e era ela que voltava toda noite na forma da cobra. E ela continuaria voltando.

A nova dimensão do escritor Jeffrey Curtian: Um coágulo de sangue explodiu na cabeça de Jeffrey e foi assim que ele entrou em estado vegetativo. No entanto, para a consciência dele, era como estar liberto das prisões do tempo e do espaço. Sua mulher o levou pra casa, viveu do dinheiro do seguro. Ela tirava-o da cama, o punha na cadeira e depois de volta à cama. Ela o amava. E foi em um dia que, ao abrir a janela, o pensamento de Jeffrey se direcionou para a luz e sua mulher, apenas olhando para ele, viu que ele já não vivia.

Um rosto entra a aba e a gola: Um homem vai tirar uma fotografia, usa uma capa de chuva e um cachecol tendo seu rosto emoldurado por eles. Escolheu o aposento porque ali havia um espelho em que se via a imagem do perfil dele. O fotógrafo colocou outro espelho à frente do homem e ele, que queria se concentrar para a foto, se perdeu entre a comunicação dos espelhos até que o flash invadiu seus pensamentos.

Ainda resiste: Um homem e sua esposa resolvem fazer uma visita surpresa a um amigo dele. A cidadezinha onde ele morava era pequena e parecia desabitada. Quando chegaram ao endereço até duvidaram se era ali mesmo. Entraram e tiveram com a mãe e a irmã do amigo, ele não estava lá. Segundo a mãe estava em uma de suas viagens, ela contou a ele sobre os últimos anos dos filhos e, aproveitando a saída do selador do prédio que estava ali para concertar uma janela, se despediram. A verdade era que Gino, o amigo, não aparecia há anos.

Além dos muros, os coiotes: Um senhor sozinho e calado, morador de uma pensão, às vezes conversava com um jovem também morador dali. Foi a ele que mostrou uma maquete de uma casa que queria construir e habitar no Apalaches. Depois de muito tempo procuraram o jovem, o senhor havia sumido. Indo ter no quarto dele o jovem viu na maquete uma luz acesa.

Por que a pena: Uma moça, que na virada do ano, mesmo acompanhada de amigos se sente solitária, pede um sinal da existência de Deus. No entanto só uma pomba branca aparece. Depois ela procura uma cartomante e na volta pra casa compra uma fruteira com pombas, e depois de se sentir mal procura um médico que lhe garante que ela não tem nada e ao fim da consulta lhe dá uma pena branca.

Um dia, afinal: Fala de uma mulher que, em certa manhã, decide ir à procura de seu marido desaparecido. Procura na cidade dele, no ex-emprego, nos bares, cinemas, restaurante, procura na cidade dela, nos hospitais, clínicas psiquiatras, faz vigia até na casa da amante conhecida. Até que procura a policia, fala do desaparecimento do marido e no dia seguinte dois policiais vão ter com ela. Levam documentos, mas ela não acredita que aquele homem que vive como um estranho na casa com ela é o marido.

Maria, Maria: Uma mulher atende a porta, era um homem que se dizia um anjo do Senhor. Ela acaba por ceder a entrada a ele. Mais tarde, grávida e despejada, procura um novo apartamento e, finalmente ao encontrá-lo, sai para dar a luz. Quando voltou com a filha, o berço ainda não tinha chegado e ela a coloca nua, devido ao calor, em um caixote com palha da mudança. Enquanto vai arrumar a comida do gato e do cachorro, eles se aproximam do bebê e assim ela afirma que o anjo não mentira: estava ali o messias.

Não há nada no bosque: Um casal em sua casa vê o cachorro alerta, latindo em direção ao bosque que cercava sua residência. Procuram e nada encontram, mas o cachorro continuava atento. Eles mandam derrubar o bosque, afinal poderia ser perigoso. À noite, quando queimava a lenha na lareira, o cachorro se agita e sai da casa correndo e latindo rumo ao bosque.

O leopardo é um animal delicado: Ela lavava louça quando viu chegarem à cidade um grupo, sendo circo ou parque disse que iria. Tratava-se de uma feira erótica, visitou-a. Comeu e bebeu alimentos afrodisíacos, comprou chaveiros. Na fila da massagem ficou envergonhada pela espera e acabou no túnel do amor devido à falta de fila. Nele homens apareciam e a acariciavam, e movida pelo desejo obrigou a um deles a se relacionar com ela. Quando saiu do túnel viu que esquecera os sapatos.

Começou, ele disse: Um casal que, enquanto dorme no seu apartamento, ouve os tiros que correm nas ruas. Acordam, conversam com medo, ouvem os tiros e explosões temerosos e aguardam a espera do fim dos estrondos.

As regras do jogo: Ele, um homem casado, inicia um relacionamento na internet com uma mulher: dizia-se loira, se tocam e se cheiram através da internet e o convívio se torna um vício. Ela impunha as regras e quando ele ousava demais, ela o castigava com a ausência. Ele, ao fim das conversas, procurava a mulher para satisfazer o desejo, até que implorou por um encontro. Marcaram e ela não apareceu mas conversando ela abriu o jogo. Era homem, casado e hetero. Começara aquilo por brincadeira que depois se tornara um vício e agora estavam ali os dois perdedores. Depois da revelação ele saiu com o carro e teve com um travesti.

Uma casa para o verão: Um homem procura uma casa para passar o verão com a família. Visita uma que por fora não aparenta a grandiosidade que tem por dentro, com uma esplêndida escadaria e corredores cheios de portas, e então decide alugá-la.

Sem que seja de joelhos: Um homem, a procura de uma nova casa visita uma que possui um jardim secreto, um desejo dele, e mesmo antes de conhecê-la toda, a compra. Desvendá-la-ia depois que fosse sua. O jardim se mostra um labirinto, ele se prepara e vai explorá-lo, fantasia o encontro com uma donzela ao centro dele. Inicialmente marca as escolhas, depois já cansado se esquece delas e sem esperar se encontra na entrada do jardim.

Na funda escuridão: Um pai cuida da filha que, depois de atacada por inúmeros gansos da fazenda, se torna inválida, “demente”. A mulher os abandonara depois do acidente e ele zelava da filha e de seus gritos. Nessas circunstâncias preparou junto da sopa o veneno, deu a sopa à filha e depois pendurou o corpo no nó de forca que fizera.

A segurança mantida: Uma ilha apareceu ao lado das docas de uma cidade e a população, curiosa e assustada, se questionava. O prefeito proibiu relações com a ilha. Ela que se mostrava habitada. A população temia. O exército foi chamado, mas ele não tinha boa atuação, pelo contrário: amedrontava mais. As moças não saíam de casa. O dia de invasão à ilha foi marcado, mas a ilha nesta data desapareceu como surgira. O exército ficou para garantir a segurança.

Como se pode amar: Ele não podia dizer que a amava, mas dentre as ovelhas era a que ele procurava primeiro. Vigiava a todas e foi assim que aumentou seu zelo quando o cão e ele perceberam que o lobo aproximava-se. Observava-as e recontava-as, porém no momento seguinte sua ovelha não estava mais ali. Deixou o rebanho com o cão e foi atrás do lobo. O encontrou sobre ela, lutaram e ele o venceu junto à sua ovelha já morta.

Nostradamus, 1994: A retrospectiva de um senhor velho e doente que relembra seus momentos de glória, os momentos felizes da vida que não suprem os tristes e a solidão da velhice.

Amor e morte na pagina dezessete: Selena era casada há 27 anos com Jonas, que era ciumento, conservador e respeitado. Há 25 anos era amante de Daniel, divertido e alegre. Amava os dois, se surpreendia por não viverem todos juntos. Saiu de casa com um vestido curto, Jonas não gostou. Ela afirmou que era um pano da liquidação, por isso era pequeno e logo o vestido também. Era o vestido que Daniel lhe tinha dado para se encontrarem. Iam comemorar as bodas de pérola. Beberam e foram ao circo, ela por brincadeira o questionou se ele domaria uma fera por ela. Foi assim que morreu e a foto dela chorando sobre ele apareceu nos jornais. Os policias ligaram para Jonas, mas ele não quis saber. Ela foi dormir na casa de uma amiga e no dia seguinte procuraria o marido.

Por Rebeca Cabral